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domingo, 11 de dezembro de 2011

GALO MALANDRO

Percebia, com tristeza, que hoje em dia acham que contar caso é só pra fazer rir. Mas sabia que antigamente, não, os casos eram contados também por outros motivos: dar notícia de lugares distantes, incutir valores de religiosidade, moral, comportamento, ideologia política...

Tinha certeza, ninguém ria de muitos dos casos que contava. Num tinham graça nenhuma. Riam era do jeito que contava. Do linguajar que usava. O caso do Anrique, por exemplo. Que graça tem? Só se for na metideza dele, de querer falar diferente do caipira que ele era. Aliás, ele era caipira duas vezes. Primeiro, porque era da roça e, depois, por que tocava música sertaneja na sanfona. Música sertaneja, naquele tempo, era chamada de música caipira e quem tocava era os caipira. Ele tocava bem demais da conta, mas não gostava de falar feito caipira de jeito nenhum. Então, um dia raro, ele desceu lá do Acá, onde morava e apareceu lá no Oco. Tinha madrugado, porque, quando chegou, o Nego Roque mais o Zé Tiano, o Luquinha e o Zé Caboco ainda estavam tirando leite. Ele chegou e ficou por ali, prosiano. Aí, teve uma hora que ele recordou uma coisa e perguntou:

- Ô, Nego, você se lembra daquela vez em que roubei uma torquês de vocês?

Até aí, nenhuma risada. Todo mundo oiano pantonte, com jaez de quem não entendeu nada. Mas, quando contava a resposta do Nego Roque...

- Ô, Trem Besta, num tá veno que é “aquela veiz que robei uma truqueis d’oceis?”

Aí, sim, o povo rolava de rir.

Pois é, desde quando ainda era mininiho piquititinho reparava no jeito de falar das pessoas. A Dona Leivina, então, velha como era e falando daquele jeito, devia de ser filha de escravos e ainda ter sotaque de alguma língua africana. Podia até ser por causa da falta de dentes, mas muita gente era sem dente e não falava assim!... Ela soltava uns blop antes das palavras. Quase não entendia nada que ela falava.

Outra coisa que achava intrigante era porque que o Passo-preto é chamado de Passo-preto? Preto, tudo bem. Ele é mesmo todo preto – olho preto, penas pretas, canela preta, pé preto... Mas Passo? Porque Passo? Não tem nada diferente no passo dele. Ele anda igualzinho os outros passarins, saltitando, pululando... Então, porque Passo? Só mais tarde, já mais grandinho e estudando, é que aprendera que passarim também é chamado de Pássaro. Aí, aos poucos, foi entendendo: esse tal de Passo era pra ser Pássaro – Pássaro-preto. É... mas achava esquisito. Passo-preto é mais bonito. Pelo menos é melhor de falar. E, se falasse Pássaro-preto, iam rir igual riam do Anrique... E tem outras coisas: córrego é corgo, abóbora é abobra, espírito é isprito, úbere é ubre, estômago é alguma coisa entre estambo e estame, se um lobulozinho é lobinho, lóbulo é lobo. O sapo, que é o "De Cócoras", ficou sendo o Dicroque, ou Dicoque. Música é musga. Dúvida é duda. Furúnculo é furunco.

Túmulo?!... Ara, túmulo é... Catatumba... Sipultura...

É... é divera, sem duda nenhuma, o povo da roça, que estudou pouco ou nada, não gosta mesmo dessas palavras esdruxas. As tais proparoxitas, lá da escola. Também puderas, a gente quase bebe o forgo no meio delas! E devia de ser isto que explicava o nome do Galo Musgo.

Parecia um mito, mas os caipiras, que adoram uma cantiga de galo, viviam falando que tinha um jeito de fazer um galo musgo, que cantava mais e melhor que os outros, que devia de ser, então, um Galo Músico. Todo mundo morria de vontade de ter um, mas ninguém sabia direito a receita nem tinha coragem de aprender. Esse negócio de sampatia era pra uns poucos, que tinham lá seus mistérios com as coisas de Deus. Além do Galo Musgo, tinha o Galo Capão, que era capado pra ajudar as galinhas a criar os pintinhos. Não sabia se ele era capaz de emperrear e chocar. Mas lembrava do galo nanico, tão bonito, cheio-de-longas-penas, furta-cor entre o vermelho, o preto e o azulão. Tinha crista vermelha-grande e duas enormes esporas brancas de tão velhas. Ele falava choco(^) e chamava os pintos, porque era capão. De modos que, de tão gordo, morreu de cansaço num dia muito quente.

Mas esse negócio de contrariar a natureza das coisas dava um medo! Todo mundo achava melhor ficar só com o galo comum, o Galo Malandro. Que bibiricava um bago de milho no chão, cacarejando grosso, oferecendo o agrado pras galinhas. Nessa hora, umas penas do pescoço dele arrupiavam, formando uma argolona de penas, assim. Ninguém sabia se era de propósito, mas, que a coisa ficava mais séria com aquela argola, ah, isso ficava! As galinhas vinham desesperadas pra ver o que que era. Mesmo quando alguém jogava um punhado de milho pra eles, elas passavam por cima dos grãos tudo e corriam direto praquele que o galo oferecia. E, quando a primeira chegava perto, enquanto ela bicava o grão de milho, ele já mudava o cacarejo e ia andando em roda dela, brabo, caprichando mais na argola do pescoço, espichando uma das asas e passando as unhas do pé por debaixo da asa, fazendo barulho nas penas. Logo-logo dava uma bicada na cabeça dela, prendia o bico num capucho de penas, fazendo ela aninhar e... Subia nela. Mas a malandragem do galo não parava aí, não. Com o tempo ele aprendia a bicar uma pedrinha ou um trenzim qualquer, fingindo que era um caroço de milho. Só pra tapear e pegar as galinhas. Ninguém sabia quem era mais malandro, se o galo que fingia oferecer um milho, ou se a galinha que fingia acreditar...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Pré-Sal, Ciência e Educação

PRÉ-SAL, ciência, tecnologia e educação*

Sérgio Mascarenhas**

Enquanto governadores, deputados e senadores brasileiros se engalfinham num cabo de guerra político pela partilha federativa dos recursos a serem gerados com a exploração do petróleo da camada pré-sal, vai passando quase despercebida e mais uma vez negligenciada a oportunidade histórica de o país garantir o uso desses recursos para dar um salto inédito e há muito necessário nas áreas de ciência, tecnologia e educação.

Se não bastasse atentar para a dívida humana e social que representa o atraso brasileiro nos indicadores de desempenho educacional e nos rankings internacionais de pesquisa e desenvolvimento, vale notar que nenhum país poderá ter um real desenvolvimento, neste século, sem um programa robusto de impulso à inovação que passe, também, pela inclusão intelectual das novas gerações.

Um verdadeiro plano de desenvolvimento da ciência, tecnologia e educação no Brasil não poderá ser feito só com protocolos de intenções, redução da burocracia e fomento pontual a programas e instituições de excelência. Nosso problema não é falta de instrumentos, e sim de recursos. Numa palavra, é preciso destinar mais dinheiro, muito mais dinheiro, para que o país possa irrigar essa cadeia de capital humano que começa nas creches, passa pelo ensino fundamental e médio até chegar às universidades, programas de pós-graduação e centros de inovação associados a empresas capazes de aplicar tecnologias na geração de riqueza.

A própria competência para explorar o petróleo do pré-sal e os serviços dele derivados, com autonomia e inteligência, em médio e longo prazos, depende da constante renovação e evolução dessa cadeia intelectual. Nunca o país precisou tanto de engenheiros, geólogos, físicos, químicos, cientistas da computação, matemáticos, entre tantos outros profissionais, cujo talento e formação se empregam em todas as etapas de geração e aplicação do conhecimento.

E não basta dar a esses futuros profissionais um diploma de nível superior. Será preciso, sim, investir na qualidade dessa formação, de modo que sejam dadas as condições para que possam inovar, gerar novas técnicas, processos e produtos intelectualmente apropriáveis e sustentar uma continuada e acirrada competição tecnológica com seus colegas norte-americanos, europeus e asiáticos.

Nas últimas décadas, os ciclos de produção e aplicação do conhecimento se encurtaram, levando a uma convergência temporal entre ciência e tecnologia. Enquanto foram necessários 40 anos desde o estabelecimento das leis da eletricidade e magnetismo até o funcionamento do motor elétrico, a tecnologia mais recente da luz laser, por exemplo, já encontrou utilidade no mesmo ano de seu invento.

Cada vez mais, produtos, processos e serviços tecnológicos têm vida curta, pressionados por um novo ciclo de inovação dentro de uma economia globalizada e com competitividade acelerada. Vale então perguntar: em que, exatamente, o Brasil tem se mostrado inovador? Até hoje não temos um único Prêmio Nobel, nem científico nem literário. Se quisermos comparar, basta lembrar que a Universidade Rockefeller, de Nova York, sozinha, já recebeu 26 deles, e o mais recente na área da medicina. O fato é que nossos jovens nunca foram devidamente educados para uma cultura baseada em ciência e tecnologia.

Basta olhar em torno. Campos de pelada há em todo lugar, do centro às periferias. Carnaval fora de época, quase todo fim de semana. Já museus de ciência, planetários e bibliotecas são raros e parecem cada vez menos procurados, assim como a própria carreira de professor, como mostrou estudo recente da Fundação Carlos Chagas. Para mudar isso, ciência e tecnologia precisam impregnar o sistema educacional. Nossa inovação deveria começar pelos métodos e processos de ensino. Ainda estamos longe da “escola-parque” sonhada por Anísio Teixeira. Nossos redutos de educação ainda respiram um ar cartorial, com estruturas engessadas, em que a tecnologia é mal empregada e crescem os impulsos ao bullying e à violência.

Nesse ambiente, os professores vivem uma espécie de síndrome de quatro medos: o medo do aluno, o medo do seu próprio desamparo pedagógico, o medo do conhecimento avassalador, que jorra pela internet, e o medo do futuro de sua carreira, desprezada não só pelo Estado, mas também pelos sistemas privados, com salários irrisórios e cargas didáticas intensas.

Mas não estamos perdidos. Há diversos bons exemplos de como virar esse jogo espalhados pelo Brasil. Um deles é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que aproximou a ciência e tecnologia do agronegócio nacional. Ainda falta popularizar a banda larga, informatizar escolas, disseminar o uso de computadores pessoais, criar centenas de museus e centros de ciência, promover o uso cívico das redes sociais e a produção de conteúdos educativos por agências multimídia, entre outras propostas que tive a oportunidade de apresentar durante a 4ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável, em 2010, em Brasília.

Agora, nossas esperanças repousam na angustiada solicitação da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) para que parte dos recursos do petróleo do pré-sal seja destinada, em lei, para esses urgentes investimentos em ciência, tecnologia e inovação, formando o alicerce do desenvolvimento futuro do país. A meta deve ser, no mínimo, duplicar o volume de recursos investidos ao ano nessas áreas. Isso, sim, seria um verdadeiro salto de desenvolvimento do Brasil.

* Publicado no jornal O Estado de São Paulo de 28 de novembro

* Presidente honorário da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), membro titular da Academia Brasileira de Ciências e professor emérito do Instituto de Física de São Carlos, da USP

domingo, 4 de dezembro de 2011


A PRINCESINHA DO SÃO FRANCISCO

A gente nem se surpreende mais com a riqueza do solo e subsolo deste País onde, desde sempre, em se plantando tudo deu e, de uns tempos para cá, em se furando, tudo passou a esguichar.

Agora, quem vai ficar bonita no mapa econômico é a pequena cidade mineira de Morada Nova de Minas, até então sem maiores perspectivas quanto ao futuro de seus oito mil e poucos habitantes.

Quis a natureza que das estranhas da pacata “Princesinha do São Francisco” — a quase 300 km ao norte de Belo Horizonte — aflorasse a riqueza dos hidrocarbonetos. Mas de um jeito espetacular.

Em apenas um poço, a Orteng, uma empresa privada que vem procurando gás na região há mais de dois anos, encontrou entre 175 bilhões e 195 bilhões de metros cúbicos de gás natural.

Para se ter uma ideia do tamanho do achado, na prática isto permitiria uma extração diária de cerca de 6 milhões de metros cúbicos ao longo dos próximos 25 anos.

Também significa que deste único poço será possível extrair 20% do que o Brasil importa da Bolívia todos os dias para abastecer indústrias, usinas térmicas de energia, lares e carros país afora.
Hoje o Brasil tem um volume de reservas provadas de 417 bilhões de metros cúbicos de gás natural e as descobertas da Orteng ainda precisam de mais dados para entrar nessa conta.

Mas se forem confirmadas essas estimativas, é um volume de gás espantoso para apenas uma perfuração, representando algo bastante próximo de 50% de todo o gás que já foi descoberto no Brasil.
Só que as boas perspectivas se estendem bem mais adiante: pesquisas indicam que pode haver concentrações de gás em uma área que vai desde o centro do Estado até quase a divisa de Minas Gerais com a Bahia e com Goiás.

Além de Morada Nova de Minas, já foram encontrados indicativos de concentrações volumosas de gás em outras duas cidades do norte do Estado – Brazilândia de Minas e Corinto, que também vivem momentos de euforia.

A expectativa do governo de Minas Gerais é de que os investimentos apenas em prospecção passem dos R$ 1,2 bilhão nos próximos anos.

Conheça mais sobre Morada Nova de Minas no blog do Harley Moura e veja a sua vasta galeria de fotos no Flickr. (clique nas imagens deste post para ampliar)

Informações completas aqui

Minas quer criar parque de térmoelétricas movidas a gás

Idéia é que usinas sejam construídas sobre os poços de extração do combustível ao longo de todo estado.

Foto: Getty Images

A secretária de Desenvolvimento Econômico de Minas, Dorothea Werneck, quer usinas térmicas para geração de energia elétrica no estado
Apesar de as descobertas de grandes reservas de gás natual em Minas Gerais ainda carecerem de pesquisas mais aprofundadas para comprovar sua viabilidade econômica, o governo mineiro já faz planos de como vai transformar o combustível em dinheiro. O projeto principal passa pela construção de usinas térmicas para geração de energia elétrica nas regiões onde forem ocorrendo as descobertas. 

Leia também: Descoberta de reserva gigante cria corrida do gás em Minas Gerais

“Esse é um plano, mas não é o único. Nós estamos muito, muito otimistas e acreditamos que isso pode transformar uma das regiões mais pobres de Minas, mas tudo com o pé no chão”, diz a secretária de Desenvolvimento Econômico do estado, Dorothea Werneck.

A ex-ministra da Indústria e Comércio do primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso acredita que as usinas poderiam ser instaladas junto aos poços de extração e ligadas às linhas de transmissão que passam pelo Estado. “Em Morada Nova, com o que foi descoberto lá, poderíamos fazer três usinas com capacidade de 500 megawatts cada”, diz ela. A Secretaria de Desenvolvimento chegou a contratar uma consultoria para que um plano de aproveitamento do gás seja feito. “Em janeiro estará pronto e vamos começar a trabalhar”.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Descoberta de reserva gigante cria corrida do gás em Minas Gerais

Indícios mostram que depósitos podem equivaler a metade de todo o gás natural existente no Brasil; veja as águas que pegam fogo

Yan Boechat, iG São Paulo | 01/12/2011 05:57
Foto: Yan Boechat Ampliar
A barragem da hidrelétrica de Três Marias isolou a cidade de Morada Nova de Minas da BR-040, a principal artéria econômica da região central de Minas Gerais
Morada Nova de Minas é uma daquelas cidades que parecem viver um eterno domingo. Nas ruas, sempre poucas pessoas e carros preguiçosos param a cada esquina, como que em respeito a sinais de trânsito imaginários. Nas praças, raros são os momentos nos quais há crianças barulhentas o suficiente para quebrar o silêncio, a trilha sonora dessa cidade a 280 km ao Norte de Belo Horizonte. Há quase 60 anos isolada da artéria econômica da região central de Minas Gerais – a rodovia BR-040 – pela construção da barragem da hidrelétrica de Três Marias, à primeira vista, Morada Nova parece ser uma cidade fadada a ser assim, meio triste, meio decadente e sem grandes perspectivas.

Foto: Yan Boechat Ampliar
Na praça principal de Morada Nova, o silêncio e o vazio fazem as honras numa segunda-feira
Mas calmaria típica de uma manhã de segunda-feira esconde o rápido curso de uma revolução com potencial para mudar para sempre não só o destino da pacata Morada Nova, como também o de dezenas de municípios mineiros e do próprio estado em si. Foi ali, a poucos quilômetros da igreja que homenageia Nossa Senhora de Loreto, a padroeira local, que em agosto deste ano fez-se a primeira descoberta concreta e volumosa de gás natural em Minas Gerais.
Apenas em um poço, a Orteng, uma empresa privada que vem procurando gás na região há mais de dois anos em parceria com o governo mineiro, diz ter encontrado algo entre 175 bilhões e 195 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o que permitiria uma extração diária de cerca de 6 milhões de metros cúbicos pelos próximos 25 anos. Na prática isso significa que, se as previsões da companhia estiverem certas, apenas de um poço será possível extrair 20% do que o Brasil importa da Bolívia todos os dias para abastecer indústrias, usinas térmicas de energia, lares e carros país afora.

Crescimento constante

Em dez anos as reservas provadas de gás quase dobraram no Brasil (em bilhões de metros cúbicos)
ANP

“Com as informações que levantamos até o momento, temos indicativos muito bons de que de fato esse volume estará disponível para exploração, mas ainda precisamos de mais pesquisas para podermos usar a palavra certeza”, diz Frederico Macedo, gerente de Óleo e Gás da Orteng. “Mas não há dúvida de que temos hidrocarbonetos lá”. Hoje o Brasil tem um volume de reservas provadas de 417 bilhões de metros cúbicos de gás natural e as descobertas da Orteng ainda precisam de mais dados para entrar nessa conta.