O livro "Ressonância", publicado em 2006, foi organizado pela família Santos, de Morada Nova de Minas, formada pelos descendentes de João Joaquim dos Santos Sobrinho (o João Nico) e Sylla Amélia de Campos. É um livro formado por relatos e depoimentos de pessoas desta numerosa e importante família, cuja história se mistura com a história de Morada Nova de Minas. Destaco aqui os relatos e depoimentos de sua segunda geração, que vivenciou a inundação de grande parte do município pela represa de Três Marias.
OS SANTOS CONTAM A HISTÓRIA DE MORADA NOVA DE MINAS - Parte 1
RELATO DE ALBERTINA AMÉLIA DOS SANTOS E MARIA BELÍZIA
"Aos 18 anos, Albertina casou-se com Romílio Pereira dos Santos. Fixaram residência nas terras da fazenda de Romílio, nas proximidades de Morada Nova de Minas. Em 1963, as terras da fazenda foram invadidas pelas águas do grande lago da represa de Três Marias. Tiveram que sair da propriedade, pela qual receberam uma pequena indenização. Deveriam recomeçar a vida em outra região. Nessa época já eram pais de cinco filhos e o sexto já estava próximo.
A família se mudou para Unaí, cidade desconhecida para eles, porém com promessa de próspero futuro, uma vez que se tratava do único município mineiro limítrofe da nova capital do País. Não foi fácil. Os desafios foram muitos. O primeiro deles a separação dos familiares, de quem nunca tinham se afastado. A mudança para um lugar tão distante e desconhecido, o receio de se afastar da mãe com os filhos tão pequenos lhe causou sofrimento. A viagem, de caminhão, com toda a mudança, filhos e grávida de cinco meses, durou dois dias. Muito cansativa.
Romílio comprou uma fazenda, no município de Unaí. Acomodada a família, retornou para buscar o gado que havia deixado em Morada. A viagem, com a boiada, durou 28 dias. Quando chegou, os filhos tiveram medo do pai, pois se assemelhava ao bandeirante Borba Gato, tão grandes eram sues cabelos e barba.
Quando a saudade de seus pais e irmãos já não mais cabia no peito, Albertina partia para enfrentar uma penosa viagem de Unaí para Morada, com os filhos que conseguia levar. Era uma viagem cheia de interrupções. Eles pernoitavam em Paracatu. Ali sempre eram encontrados insetos e mosquitos, nem sempre se conseguia fazer mamadeira para as crianças. Ao amanhecer, partia para a outra etapa da viagem até a entrada para a travessia do rio São Francisco. Lá, na beira do asfalto, permanecia à espera de outro ônibus. Após a travessia das águas, chegava na terra natal para abraçar os familiares."
RELATO DE SILA E TEREZINHA AMÉLIA DOS SANTOS
"Terezinha casou-se aos 22 anos com Osmar Francisco. Foram morar na fazenda Cachoeira, de propriedade dos pais de Osmar. Ainda em lua-de-mel, ela e o marido foram visitar seus pais na fazenda. Quando atravessavam a represa numa embarcação de madeira e tambores de lata, um dos cavalos a bordo pisou numa tábua solta. O cavalo assustou e fez com que o barco virasse na água. Estavam a uma distância aproximada de 100 metros da margem. Terezinha agarrou-se na canoa que puxava o barco, enquanto Osmar e o barqueiro tentavam desvirá-lo com os remos. Os cavalos chegaram à margem, nadando. Eles se salvaram, mas toda a bagagem: doces, queijos, farinha, roupas, cobertas, se perdeu. Que lua-de-mel! Que sufoco!"
RELATO DE CILA ELIONOR SANTOS CORTELETE
"Uma travessia da represa feita de balsa com sua mãe durante uma tempestade também lhe é inesquecível. Para ir à cidade só havia um caminho. Iam a cavalo até a represa, atravessavam-na de balsa e continuavam a cavalo até a cidade. Nesse dia a travessia que Cila normalmente fazia admirando as águas, curtindo o barulho do motor, desejando que a represa fosse ainda maior para demorar mais o passeio, foi uma aventura aterradora. Chovia de todos os lados, o vento era forte, as águas sacudiam a balsa, fazendo com que os cavalos se desequilibrassem. Ela se agarrava fortemente ao banco e sua mãe. Todos permaneciam em silêncio, talvez por isso ela nem chorou. Desejava pisar em terra firme rapidamente e só quando isso aconteceu sentiu-se aliviada. O medo passou e a lembraça não!"
RELATOS DE LAURA AMÉLIA DOS SANTOS E MARIA SÔNIA DAYRELL CRUZ
"Em 1960, o casal (Manoel Dayrell e Laura Amélia) passou pelo dissabor de ver parte da fazenda desapropriada para a formação do lago da represa de Três Marias. Com muita tristeza se viram obrigados a deslocar a sede da fazenda para outro local, deixando para trás, coberto de águas, o resultado de anos de trabalho e naquele quinhão que fez parte da história de vida deles."