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segunda-feira, 16 de abril de 2012

FESTIVAL DO SONHO

São Luís. Começava esse caso sempre assim. E logo avisava que não é mentira não, porque tinha escutado isso de um homem que morreu com noventa anos e tinha vivido sem mentir os oitenta anos.

Não é São Luiz do Maranhão, não. Essa é lá do Norte. A São Luís que contava é cá pro sul. É onde tem um festival de música junina.

Na falta de patrocinadores e, já que este tipo de música é do povo, o festival é patrocinado pelo povo mesmo. Por isso, para o primeiro lugar, o prêmio é um bezerro; para o segundo, uma leitoa; para o terceiro um pato; para o quarto, um frango e, para o quinto, uma dúzia de ovos.

Pois bem, dizia, o Nenzico ficou sabendo e começou a ensaiar uns arrastapés no violão. Objetivo era participar do festival. Representar Morada Nova. Queria ganhar nada não. Mas, também, ele já estava adulto, com mulher e filhos e, pensando bem, seria melhor se ganhasse pelo menos o quinto lugar. Trazia um agradinho pra justificar sua ida.

Repenique no violão e as idéias viajando. Podia pegar esses ovos, colocar num embornal, amarrar na cabeça da sela e levar pro sítio. Punha os ovos pra chocar. Podia nascer doze pintos. Desses doze, pelo menos metade podia ser fêmea. Com uns três meses os frangos já podiam ser comidos ou vendidos. Um, deixava pra galo. As frangas já podiam estar botando. Com o dinheiro dos frangos comprava os remédios, alguma ração, se faltasse milho. Botando um ovo por dia, as seis frangas, em um mês, já podiam ter cento e oitenta ovos. Quando elas fossem se emperreando ele podia colocá-las pra chocar. Cada uma com seus trinta ovos mensais. Mesmo se algum gorasse, pode ser que nascessem, umas pelas outras, uns vinte pintos de cada. Só aí já iam uns cento e vinte. Metade podia ser fêmea de novo. Em três meses, mais sessenta galinhas poedeiras e 60 frangos pra vender. E caipiras, que estão mais caros hoje em dia. Podia construir um galinheiro e se especializar.

Aí, lembrava, o som das cordas foi-se apagando. Tropel do cavalo em seu lugar. Tro-pel. Tro-pel. Tro-pel.

O galinheiro já virava uma granja. Ele usara parte do dinheiro das galinhas também pra comprar umas duas novilhas. Elas deram crias que foram dadas de partir lucro pra algum fazendeiro. Depois vendeu os machos. Alugou um pasto pras fêmeas que pariram mais bezerros e bezerras. Juntando dinheiro do gado e da granja já comprara uma fazendinha. Plantou capineira, lavoura, hortaliças. Comprou mais terras. Mecanizou, modernizou. Estava rico. Virou um fazendeirão.

Susto! Tinha parado de tocar o violão? Parara de tocar o cavalo? Travou dedeira nas cordas. Um teiú surpreso correu nas folhas secas. Deu um tranco no braço. O cavalo deu um refugão. Uma corda partiu. Blém. Prááá. Foi-se a Mi? Foi-se a Dó? Foi-se a alça da capanga. Foi-se a dúzia de sonhos estatelar no chão.

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Um comentário:

Harley Moura disse...

Sensacional Lucas, muito bem narrado. Valeu a pena esperar esse tempo por mais uma bela publicação do contador de causos favorito!