Boas Vindas

Seja bem vindo(a) ao meu blog e não deixe de visitar também os links relacionados, onde poderão ser visualizadas mais de 4000 fotos, além de vídeos de Morada Nova de Minas.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Morada Nova de Minas - Perfil de um Povo(*)

Corte na serra, por onde passaria a BR-040 antes
da construção da Hidrelétrica de Três Marias
Eu não tenho terra. Tenho água. Tenho mágoa.
Desde a década de 1960, este é o lema do meu povo de Morada Nova de Minas.
Na década de 1950, nosso município era promissor, com boa produção agropecuária e uma usina hidrelétrica que possibilitava a existência de algumas indústrias, ainda que de pequeno porte. Outra promessa de desenvolvimento que nos alentava era a construção da rodovia Belo Horizonte-Brasília (BR 040), cujos serviços de terraplanagem já estavam em fase final, atravessando nosso município, passando pela sua sede. Entretanto, mudanças nos planos do Governo Federal nos reservaram a decepção de ficarmos sem a importante estrada e ainda nos inundaram um terço do município com a construção da represa de Três Marias. Numa época em que as técnicas agrícolas não conseguiam explorar os cerrados, as nossas melhores terras para a agricultura - aquelas próximas aos rios e córregos - foram inundadas, deixando-nos mais pobres. Ficamos também sem a energia de nossa usina. Por mais irônico que possa parecer, a energia elétrica produzida em abundância em Três Marias só chegou a nossa cidade quase 20 anos depois.
À derrocada da economia e à escuridão juntou-se a dificuldade de transporte, gerada pela represa, uma vez que a maioria das estradas foram interditadas pelas águas. A Indenização amigável foi feita a preços abaixo do mercado e as que entraram em demanda somente foram pagas na década de 1980, em valores irrisórios.
O êxodo foi inevitável. A desestruturação social foi esmagadora, embora um tanto silenciosa, já que assim impunha o regime político em que o país mergulhara.
Cresci observando e sentindo a angústia do meu povo, na procura de novos rumos para nossas vidas - entre a saudade, fora de casa, e a falta de perspectivas, se ficássemos em casa. Junto com milhares de conterrâneos, entrei na peregrinação: voltar a nossa cidade em cada período de férias, a cada feriado, a cada festa. E foi numa destas voltas que ouvi do saudoso Rodney Faria Gomes a seguinte filosofia: "A gente sai de Morada, mas Morada não sai da gente de jeito nenhum". Já faz muito tempo. Mas o tempo foi passando e esta frase foi calando fundo. Pocinho de mina d'água, cercada de junco, no Vau-das-flores que é meu peito. Onde ainda há indaiás, junto com as alegrias das mangabas, dos acás, as saudades das pitombas e as dores do tempo em que Barra do Paraopeba ficou mais longe. Pois é, eu sou um daqueles da filosofia do Rodney. Morada Nova de Minas saiu tão pouco de mim que eu mesmo pareço não ter saído de lá. O que não me estranha nem desagrada - muito antes pelo contrário - pois outra filosofia que tem muito a ver comigo é a de Guimarães Rosa: "ou o senhor bendito governa o sertão, ou o sertão maldito vos governa..."
Foi governado pelo meu sertanejo coração de sangra-d'água e aguapé que este "moradense" deixou de ser um morador de sua cidade, mas virou um assíduo "moradeiro". Explico: "moradense" é quem nasce e vive em Morada Nova. Quem nasce noutras terras e muda-se para Morada Nova é "morador". E aqueles que, tendo ou não nascido lá, vivem em outras terras, mas frequentam frequentemente a nossa cidade, estes, somos os "moradeiros", seja a negócios, por lazer ou amor.
Eu, cá de minha parte, virei moradeiro por pura necessidade: sarar uma neurose de saudade, um banzo. E voltar a Morada Nova é parte da cura: o chá, o divã.
Lucas Donizete da Silva.
* Texto ganhador do segundo lugar na modalidade Crônicas, do I Concurso Literário de Morada Nova, em 1993.

5 comentários:

Lucas Donizete da Silva disse...

Prezado Harley,
Muito obrigado pela bela foto. Muito adequada ao texto.

Lucas Donizete da Silva disse...

Já andei muito por esta estrada, no passado. Estou precisando voltar a passar nestas cavas.

Harley Moura disse...

Caro amigo Donizete,
Dentro das possibilidades, gosto sempre de ilustrar as nossas publicações com imagens ou links. Sua matéria ficou espetacular e só vem contribuir para facilitar o entendimento da nossa luta pelo progresso de Morada Nova de Minas.

gsampaiodasilva disse...

"Oceis" tem uma facilidade "disgramada" de "fazê" os nossos "óios" "inchê" d´água. Quanta saudade dos meus tempos de Morada.
Nozinho

Harley Moura disse...

Nozinho,
Realmente nossa cidade tem muita história pra ser contada e ninguém melhor que o Donizete para nos trazer esses relatos. Além de conhecer muito, tem o dom e a sabedoria para sintetizar de forma magnífica cada situação.