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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Os Santos Contam a História de Morada Nova de Minas - Parte 2 (final)

Esta é a segunda e última parte da publicação de fragmentos do livro “RESSONÂNCIA”, publicado em 2006 e organizado pela família Santos, de Morada Nova de Minas, formada pelos descendentes de João Joaquim dos Santos Sobrinho (o João Nico) e Sylla Amélia de Campos. São relatos e depoimentos de pessoas desta numerosa e importante família, cuja história de dificuldades, superação e progressos se mistura com a história de Morada Nova de Minas.

RELATOS DE LAURA AMÉLIA DOS SANTOS E MARIA SÔNIA DAYRELL CRUZ

“(Alzira Dayrell Neta Moura – Zizi, e Antônio Francisco de Moura) Casaram-se no dia 6 de outubro de 1960. Eles foram morar na Fazenda Cachoeira, de João Francisco da Silva, pai de Antônio. Com a chegada das águas da represa de Três Marias, deslocaram-se para a Fazenda Vereda. As águas não demoraram a chegar lá. Mudaram-se novamente, dessa vez para a Fazenda da Furna.”

RELATO DE JOÃO DOS SANTOS XAVIER (O LILI).

“A represa de Três Marias ficou pronta. As águas do Rio são Francisco e afluentes invadiram as terras do município de Morada Nova. A Fazenda Veredas estava na área que seria inundada. Diante dessa realidade, sem indenização pelo governo, a única alternativa para o meu pai (João Joaquim dos Santos Filho – o Joãozinho Nico) seria mudar-se com a família para a fazenda do meu avô materno. A fazenda Veredas virou água. Continuar era preciso. Recomeçar tudo, uma emergência. Na Fazenda Palmitos a luta não foi fácil.”

“Em 1954, saí de Morada para estudar. Ao retornar, no fim do ano de 1959, fui surpreendido com a triste notícia da represa do Rio São Francisco para a construção da hidrelétrica de Três Marias. Tempo de chuvas abundantes. Águas represadas já inundavam propriedades do município. Só se viam fazendeiros perplexos, tristes desolados. Não havia tempo para salvar todos os bens, retirar animais e fazer as colheitas. As águas chegaram com muita rapidez. O quintal da casa da Fazenda Veredas alagado, galinhas empoleiradas nas árvores. Foram retiradas de canoa. Tudo muito triste. Olhava para o rosto do pai e via muita tristeza. O gado procurava lugares mais altos, pequenos animais silvestres se refugiavam nas copas das árvores. O gado recolhido foi transportado para a Fazenda Palmitos.”

RELATOS DE GERALDO MAGELA DOS SANTOS XAVIER.

“Conheci muito cerrado bonito, vi muita pastagem boa e terra fértil que foram afogados e destruídos pelas águas da represa de Três Marias. Que lástima!...”

“E aí, veio a tristeza seguida de grande desalento! Em nome do progresso, tomaram a nossa terra! Do meu pai, mais do que isso, tomaram parte da sua vida!”

“...eu estava de férias lá na fazenda, no início da inundação, com uma câmera Kodak... fotografei o começo da demolição da casa... o paiol, os currais. Mas a tristeza do meu pai não pude fotografar... Não foi preciso. Ficou retida na memória. Sentado num tronco no pátio da casa, olhava tudo aquilo, contemplava com muita tristeza e muita dor o fim de todo um sonho, construído com tanta esperança...
O trabalho de demolição demorou poucos dias. O tempo era curto. A água subia rápido. Um caminhão e dois carros de bois transportavam o material aproveitável. Os animais eram removidos às pressas. As árvores foram encobertas pelas águas, depois os currais, o paiol. A casa e... acabou-se a FAZENDA VEREDAS!
Para nós que vivemos lá os melhores anos das nossas vidas restou a saudade e tristeza de não poder voltar... Para meu pai, hoje falecido, e para tantos outros fazendeiros da região que perderam tudo e que tiveram que se mudar às pressas, ficou dor, frustração de ver que sequer houve restituição, justiça.
A hidrelétrica de Três Marias levou progresso, conforto e bem-estar para moradores de várias regiões distantes e industrializadas, conforme proclamava seu precursor. Mas, para os fazendeiros de Morada Nova daquela época, apenas pesadelo tantas vezes repetido na memória dos que perderam tudo.”

RELATO DE MÁRIO LÚCIO DOS SANTOS.

“Presenciei o drama da inundação da fazenda (Veredas) pelas águas da represa de Três Marias. Apesar de ainda menino, ajudei na demolição das benfeitorias e no transporte do material aproveitável. Foi muito triste ver aquele mundaréu d’água avançado morro acima, cobrindo pastos, palmeiras, pés de mangas, casas, currais. O barulho da água caindo na cisterna ainda o tenho gravado na memória.”

RELATOS DE CÉLIA E MERCÊS.

“Para inúmeras famílias mineiras, o sacrifício foi muito grande. Sertanejos apáticos, até o último momento, queriam ficar no sertão. Porém saíram às pressas, muitos deles para longe. Foi uma inquietação geral. Houve muita comoção, muita revolta, muita angústia na região. O município de Morada ficou restrito à sua sede. A maioria da população deixou sua terra natal em busca de lugares melhores para seus familiares. Contam-se histórias emocionantes sobre as famílias da região atingidas pelo lago. Alguns fazendeiros morreram de tristeza, outros, desesperaram. O pagamento que o governo propôs pela indenização das terras foi rejeitado pela maioria dos proprietários.

Por um grande período, o município ficou com a economia estagnada, pois suas terras férteis estavam submersas naquele grande lago. Com o passar do tempo, foi iniciado o reflorestamento das margens do lago. Foram plantadas grandes áreas de eucalipto. Veio então a fase da exploração do carvão vegetal, extraído da plantação de eucaliptos. A região voltou a sentir o movimento nas suas estradas. Daí a mais um tempo, começou a exploração de lavouras irrigadas às margens da represa. Algumas fazendas também puderam ser irrigadas para melhoria das suas pastagens. A economia da região melhorou.

Hoje, Morada Nova de Minas ressurge, transformando as águas e a beleza do lago em fontes de renda, por meio da pesca, da irrigação de pastagens e lavouras e do incentivo ao turismo. Vários filhos da terra têm voltado à região. Alguns se emocionam, recordam, contam histórias para os filhos que normalmente os acompanham. Morada Nova é uma cidade onde existe calma e tranqüilidade. A vida flui mansa, sem pressa, ao sabor dos ventos vindos do grande lago que um dia afugentou os seus filhos”.
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4 comentários:

Anônimo disse...

Mostrei este artigo para a minha mãe e ela até chorou de emoção. Meus avós passaram por esta situação na época do ocorrido e sempre nos contavam histórias como essas. Parabés ao autor, por trazer histórias reais, que apesar de tristes mostram a força de um povo guerreiro que conseguiu superar tamanha dificuldade.

Regina

Anônimo disse...

Eu também gostei muito deste artigo. Conta parte de acontecimentos de uma época difícil para nosso povo e que as pessoas de hoje pouco conhecem. Maria Tereza.

Claudio disse...

Esses relatos demonstram claramente o sacrifício de um povo em nome do progresso do país. Já passou da hora do progresso chegar também para esse povo. Espero que o Governador Anastasia cumpra todas as suas promessas de campanha e que leve o asfalto à MG-415, pois somente assim haverá condições de desenvolvimento para a Morada Nova de Minas. O Gás Natural é um expectativa de progresso também, mas a longo prazo e se os recursos originados forem bem aplicados.

Joice Ribeiro disse...

Existem muitas histórias para serem contadas, sobre a inundação provocada pela construção da Barragem de Três Marias. Muitas pessoas perderam tudo que tinham, tiveram que reconstruir suas vidas em outras localidades. Alguns caso de sucesso, mas também várias famílias que passaram por dificuldades e até hoje lutam para recontruirem suas vidas.