Toda vez que o assunto era o Natal, pedia pra entrar na conversa e ia logo comentando que, hoje em dia, as pessoas não lembram mais do galo. É... Porque, antigamente, além do burrinho, da vaquinha e do carneiro, o galo também fazia parte do Nascimento. Lembrava que os mais velhos contavam pra meninada que foi o galo que anunciou, cantando na madrugada do dia 25 de dezembro: Cristo-cristo nasceu!!! E a vaquinha tinha perguntado: Onde? Onde? E o carneirinho respondido: Belém! Belém! Achava que o burrinho não tinha falado nada não... Não lembrava.
Continuava contando, inclusive, que tinha ajudado muito a mãe a fazer o Presépio no Natal e que sempre colocava o galo, pousado no alto da gruta ou na cuminheira da choupana. Também tinha aprendido com ela uma coisa que mostrava a grande relação do galo com o Natal. A criação de galo musgo. Tinha visto ela criar um na fazenda. E deu certinho. O galinho foi crescendo e madurando a cantiga. Começou igual a todo galo. Levantava o corpo, espichava o pescoço e cantava, fazendo um movimentozinho pra frente com o pescoço, parando quando o canto acabava. Depois passou a baixar a cabeça até encostar o bico no chão, de tão grande que era a cantiga, pois repicava o grito como nenhum outro galo fazia. No final, ele já até empinava mais o pescoço pra trás, pra aumentar o tamanho do movimento. Quase encostava a cabeça lá no sobre, onde nasce o rabo. Começava a cantiga e ia levando o pescoço, assim, pra frente. Mais ou menos no meio, redobrava o canto e ia espichando o pescoço até quase bater o bico no chão. E ainda dava uma puxada, assim, pra trás novamente pra continuar cantando, quando o fôlego acabava. Cantava até pra dentro, nessa hora.
Dizia que, além de cantar mais que os outros, o galo cantava muito mais vezes no dia. Fazia questão até de imitar, assim menos ou mais, como o galo fazia. A cantiga na voz e o movimento no braço. O pai nem aguentou tanta cantoria. Começou a implicar com o galo, dizendo que um gato-do-mato bem que podia pegar esse diacho desse galo. Tentava espantar ele quando ele começava a cantar, mas ele nem fugia direito, pra não interromper a cantiga. Dava uma corridinha assim, de lado, e continuava cantando até terminar. Muitas vezes o pai tinha mandado matar o galo, mas ninguém tinha coragem, pelo gosto que tinha nele e por causa da ligação dele com o Natal. Até que um agregado pediu e levou ele pra um dos Retiros. Lá pra Baixo, ou pro Acá. E a mãe tratou de esquecer a receita de criar galo musgo.
Mas ainda lembrava como ela tinha feito. Deu trabalho! Logo que entrou Dezembro, ela começou a seguir as galinhas que já estavam falando choco, pra achar os ninhos onde iam emperrear. E a juntar ovo pra por pra chocar. E a deixar indez nos ninhos mais fáceis e mais de perto, pra facilitar. No dia 04, dia de Santa Bárbara, ela marcou uma cruz de carvão nuns ovos e trocou eles pelos ovos do ninho de uma galinha que já estava chocando, à meia noite, para os pintinhos nascerem no dia 25. Cê sabe, né! Galinha choca é braba e não sai de riba dos ovos de jeito nenhum. De modos que ela levou muita bicada, mas, de vez em quando, visitava o ninho pra retirar algum ovo que alguma galinha pudesse ter botado, lá, depois do dia 04. Então... A cruz de carvão marcava a fé e a data.
No dia 25, escutou mais uma vez as reclamações do pai, quebrou pau no ouvido e foi ver o ninho. Tinha tirado um pintinho, que ela deve de ter marcado de alguma forma, ou jogado fora os outros ovos que não tinham tirado ainda. Aí, passou a viver com a preocupação dos outros, enquanto o pintinho ia crescendo: E se fosse uma pintinha?... Era capaz de ser musga também?... Credo! Galinha que canta!... Não presta. É mau sinal. Faz mal. Sei lá. Mas ela tinha certeza que era um pintinho, que ia virar um galo musgo.
E foi mesmo. Lembrava dele em todas as férias e feriados, na fazenda, provocando admiração e comentários dos outros e indignação no pai. Até o dia que ele não foi mais visto e tinha ficado sabendo que ele foi levado pro Retiro. Lá em Baixo, ou no Acá.
(Lucas Donizete da Silva, Contagem, 15 de novembro de 2011)
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terça-feira, 15 de novembro de 2011
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Um comentário:
Donizete,
Mais um texto muito bem elaborado e bastante criativo, sem contar que de uma forma ou de outra, nas linhas ou nas entrelinhas, nos remetem a um passado de lembranças boas ou de superação, que de certa forma mantem viva a nossa cultura e o nosso passado, permitindo a comparação com o presente para planejarmos um futuro.
Muitas pessoas não compreendem o que você escreve, mas tenha certeza que outras tantas sabem exatamente o que é dito em cada uma das palavras e certamente se relacionam com elas, seja na própria vivência ou seja na vivência de um parente ou de um amigo.
Parabéns!!!
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