Gostava de repetir, fazendo graça. Genipapo. Geni tem papo. Comer a lixa do genipapo dá papo. Depois, argumentava. Até que é bom acreditar nisso. Assim, ninguém come aquela lixa, que comer um trem tão lixento daqueles deve mesmo de fazer algum mal. Mas papo não dá não. Bobagem. O povo diz isso deve ser porque o genipapo tem esse nome e mesmo porque ele lembra um papo. Quando está maduro então, todo mucho e enrugado, remeda direitinho um daqueles papos bem graúdos e erados.
(“Erado”... tinha falado essa palavra com um neto noutro dia e ele falou: “Vô, erado é irado, véio!”)
E continuava contando. Sô, tinha gente papuda demais. Só nunca tinha visto gente de quatro papos, mas de um, de dois, e de três, tinha visto de todo jeito. Desde um coquinho assim, até coco da Bahia. E o povo inventava cadas caso!
Dizem que uma vez uma família pediu pouso numa casa. Que era um menino com um papinho, a mãe com um papo e o pai com um papão. E que de noite eles roncavam falando os cocos que cada um tinha: “Parmito”. “Gariroba”. “Jiribá”. E que uma vez, numa cidade EM que todo mundo era papudo, chegou um homem sem papo. E que tudo mundo ria dele. Do aleijão dele.
Não, os papos acabaram, não é porque acabaram os muitos matos não. Foi porque puseram iodo no sal. “Sal iodado”, não está escrito assim em todo pacotinho de sal? Pois é, o que combate o papo é o iodo. Lembra que a água de Morada Nova era muito pura, sem mistura? Então, nem iodo tinha. Sem lama, sem lodo. Sem lodo, sem iodo. O iodo é feito do lodo. Achava. Lá pras bandas das Areias nem dava lodo: era arenoso. É por isso que tinha tanta gente papuda.
O mais famoso deles? Não lembrava dele não. Lembrava do medo que já tivera dele. É... ele era um dos mais usados pelos adultos pra fazer medo nas crianças. Era só falar olha o João Papudo que menino birrento tomava jeito na hora: ia já-já tomar banho, escovar os dentes, pra escola, fazer os deveres, cumprir a obrigação, caçar serviço, dormir cedo...
Tinha sempre que lembrar que, dizem, uma vez ele apareceu lá na casa onde morava, de repente. Passeando. E que, quando escutara falar que era o João Papudo que estava lá, tinha tratado de correr pra debaixo da cama. E, quando a curiosidade venceu o medo, saído de lá e ido ver. Mas ficado na sala-de-janta, olhando de meia-cara, feito mico-estrela por detrás do pau, no portal da porta que dava pra sala-de-visita, onde ele conversava. E que diziam também que ele usava a camisa abotoada até no gogó e tinha uma voz fina, tudo por causa do papo.
O povo contava, ainda, que uma vez ele danou pra casar com uma mulher e que ela falou com ele que até que casava, mas só se ele tirasse aquele papo. Pois não é que ele sumiu cá pra Itaúna, a pé, a cavalo, de trem, ou...Quem sabe lá?! E voltou sem o papo. Ainda usava a camisa no gogó, mas era por causa do costume... E da cicatriz. Mas ela não casou com ele não. E quando alguém caçoava dele, ele ia logo falando que não casei mas valeu a pena, pelo menos fiquei sem o papo.
O que nunca sabia dizer era se gente grande também tinha medo dele. Mas, garantia, o certo é que, pelo menos respeito tinham. Pelo sofrimento, pela bravura e pela brabeza dele. De modos que, uns para os outros, diziam “o João Papudo”. Mas, para ele, o máximo de apelido que arriscavam era “ O Que Já Teve”.
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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
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